terça-feira, 20 de outubro de 2009

Papel & Vida

Quando temos dificuldade em colocar para fora o que sentimos, buscamos formas para expressar... A maneira mais fácil pra mim é escrever. É um momento onde só eu e o papel sabemos o que eu sinto, seja dor ou alegria. O papel não vê minhas lágrimas, o papel não vê meu sorriso, muitos menos critica qualquer das minhas atitudes... O papel só guarda, assim como eu. Sou capaz de comparar a minha vida ao papel. Vou escrevendo, até que uma hora a linha acaba. Pulo para a próxima, e assim sucessivamente. Porém, uma hora a folha acaba. Frente e verso, puro sentimento. Mas às vezes é difícil mudar de folha. Às vezes é difícil sair de uma determinada situação, e me condeno a viver ali, naquela folha onde não cabe mais espaço pra mim, pra minha vida. Os sentimentos não se renovam. A vida toma continuidade, e acabamos deixando o nosso livro com folhas em branco porque lá atrás tivemos medo de virar a página, de viver... Mas agora a vida seguiu arrastando consigo a minha insegurança... Por um medo bobo, tive que pular muito mais páginas para continuar a escrever. E ninguém nunca vai poder completar as páginas que em branco deixei... Quem me dera poder voltar... Mas ao me martirizar por páginas em branco, acabo deixando mal feitas as atuais. Não devo me arrepender. Devo completar com perfeição as novas páginas, para que compensem as que sem escrever eu deixei...

Não se arrpenda do que fez, e sim do que não fez. Mentira! Não se arrependa do que fez e muito menos do que não fez. Se algo lhe causa algum arrependimento esqueça, e se esforce para fazer diferente depois.

Trecho de mais uma poesia de Fernando Pessoa.

Afinal
[Fernando Pessoa]

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é
Tudo, E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.
[...]

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